No segundo blog de nossa série explorando o impacto do Festival de Dados, leia sobre uma nova parceria entre a equipe do Humanitarian OpenStreetMap Team e a Global Partnership, que se desenvolveu a partir de uma oficina no Festival. Trabalharemos em conjunto com os Institutos Nacionais de Estatística da América Latina e do Caribe para fortalecer e melhorar os dados cartográficos na região.

Qual é o estado de conservação de nossas áreas protegidas em termos ambientais? Por que algumas de nossas melhores escolas estão localizadas ao sul ou ao norte de alguma avenida em nossas cidades? Onde estão concentrados os danos causados por desastres naturais e o efeito persistente das mudanças climáticas? Essas e outras perguntas são as que os tomadores de decisão na América Latina e no Caribe devem enfrentar para fornecer respostas e serviços eficazes diante das crises. Muitas vezes, tomam decisões com base em informações pobres, desatualizadas ou difíceis de obter.

Em 6 de novembro de 2023, no âmbito do Festival de Dados, o Humanitarian OpenStreetMap Team (HOT) e a Global Partnership for Sustainable Development Data realizaram uma mesa-redonda com representantes dos escritórios dos Institutos Nacionais de Estatística do Paraguai, Colômbia, Chile, Suriname, Uruguai, Costa Rica, República Dominicana e Jamaica para discutir como melhores dados cartográficos podem ajudar a abordar essas perguntas. Nesta sessão, foram exploradas as necessidades dos países da região em termos de informações cartográficas para enfrentar seus desafios comuns.

Por que precisamos de melhores mapas

Nossos países enfrentam desafios para acessar ou construir cartografias para seus exercícios censitários e de monitoramento de dinâmicas populacionais. A maioria dos países possui leis, estruturas metodológicas e informações geográficas desatualizadas, utilizando bancos de dados abertos de seus serviços públicos e imagens de satélite. Por meio de métodos tradicionais, vários países não conseguem acessar múltiplos dados: podem ser ambientais, como ordenamento territorial em torno da água ou monitoramento de desmatamentos para mineração; ou demográficos, como comunidades, características sociais e culturais em regiões excluídas. Além da adequação normativa, é necessário incorporar novas tecnologias e fontes de dados para fornecer uma visão mais clara. No entanto, não existem plataformas comuns entre os países.

Neste contexto, o OpenStreetMap (OSM) se torna um aliado valioso. O OSM é uma plataforma geográfica aberta que permite a qualquer pessoa contribuir para o mapa e usá-lo livremente. Por sua natureza aberta e participativa, bem como sua versatilidade, o OSM é considerado um bem público digital pela Aliança de Bens Públicos Digitais (DPGA), ou seja, uma plataforma de código e dados abertos que também se adapta aos contextos de privacidade, tratamento de dados pessoais e humanitários de cada região. A abertura permite o crescimento de um grupo de atores que colaboram para expandir a plataforma e torná-la uma infraestrutura para o desenvolvimento de vários projetos. 

Por exemplo, alguns países podem usar esses dados para triangulação de informações, atualizar as informações disponíveis (um desafio comum conforme reflete o índice ODIN, ou Inventario de Dados Abertos em inglês) ou focar seu trabalho em setores estratégicos como agricultura. Além disso, nossos países enfrentam desafios específicos em termos de desmatamento, mineração ilegal ou propriedade da terra, onde os dados, em geral, são escassos para monitorar a magnitude dos problemas. E aqui é onde os cidadãos podem contribuir ativamente com dados, algo que diferentes aplicativos no âmbito do OSM permitem e que seriam facilmente adotados. Tornar esse tipo de informação visível do ponto de vista local é de grande importância para os tomadores de decisão.

Deste encontro surgem três perguntas interessantes para a região:

  • Como a região pode se posicionar conjuntamente em relação à importância dos dados abertos no emergente mercado de dados espaciais? Plataformas como o OSM colaboram ativamente como empresas que fornecem informações espaciais de qualidade, mas muito mais poderia ser feito em conjunto, com os países da América Latina e do Caribe.
  • Como gerar capacidades para que o uso de dados não seja apenas para construção cartográfica, mas também para produzir estatísticas? A conexão entre cartografia e estatística é evidente, e alguns países integram as instituições responsáveis pelas estatísticas e pela cartografia. As possibilidades de inovação na produção, integração, uso e visualização de dados oferecem importantes vias de colaboração para os institutos de estatística da região.
  • Como os países da região podem avançar para sistemas de informação geográfica integrados e abertos que apoiem a atividade estatística com novas fontes de dados, entre outras? Alguns países já fizeram avanços significativos, mas os sistemas de informação geográfica abertos ainda podem incorporar novas formas de trabalho e novas fontes de informação provenientes da participação cidadã.

Em resumo, identificamos três necessidades regionais chave que foram discutidas em nosso evento. São elas:

  • Aumentar o uso participativo de dados gerados pela cidadania para criar melhores mapas.
  • Melhorar a granularidade das informações cartográficas.
  • Capacitar a população e o setor público no uso de novas fontes de dados e ferramentas.

Incorporar o OSM e suas ferramentas, em colaboração com a Global Partnership, é a possibilidade de incorporar uma tecnologia aberta de menor custo, fortalecendo assim o universo cartográfico regional. Esta parceria criará conhecimento, colaboração e capacidades nos países da região. Como um bem público digital, os países podem avançar em estratégias comuns e compartilhadas para responder a esses desafios e favorecer a aprendizagem conjunta. A contribuição para a criação de mapas confiáveis é apenas o primeiro passo para envolver nossas populações no conhecimento de seu próprio território, seus desafios e as ações que podem ajudar a solucioná-los.  

HOT e a Global Partnership vão explorar oportunidades com países para fortalecer capacidades em cartografia, mapeamento e estatística na região durante o ano. Nós vamos trabalhar com países solucionando desafios para conseguir dados atualizados e informações confiáveis, para combater desafios chave do desenvolvimento.